quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

coisas que eu queria falar mas não sei como dizer.

o amor é só um pedaço;
no fundo é tudo sobre forças,
e fontes, e energias.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

a última história de amor do ano - explicando o mito.

Eu não pensava em você até a hora em que abri a porta para sacudir a toalha da janta no quintal,
e a lua jorrou um branco tão impressionante arrebentando a noite sobre mim que fiquei zonzo, atordoado, tudo parou de doer e doeu o dobro ao mesmo tempo.
Achei que ia vomitar. Dei meia volta, entrei em casa e fui direto pro banheiro.
No caminho deixei a toalha em cima da mesa da cozinha e fiquei reparando na vontade que me dava, então não olhei pra ninguém.
Entrei no chuveiro gelado de roupa e tudo, se bem que só molhei a cabeça e as pernas por um segundo.
Me recomponho rápido, pra não pensar demais.
Na saída do banheiro reclamei com fúria do calor. Bateção de porta e tudo. Pai, mãe, os de casa me estranharam, mas era esse o meu normal.
Passei no quarto, peguei um cigarro e voltei lá fora.
A lua, essa cretina, que sempre estivera ali, agora me matava na fumaça que subia de mim. Noite existindo em cada um dos meus átomos, os assaltos, os suores, os televisores ligados, as chegadas, os motores em espera, os gatos, os postes, as lanchonetes, os grunhidos, os chorinhos, a quinta-feira, a adrenalina, os beijos, os grilos, os coelhos, a escuridão.
Quando acabou o meu cigarro, entrei em casa e nesse portal me lembrei com todo o corpo de ja ter sentido isso antes. Foi então que eu passei a pensar em voce.

Meus pais ainda estavam acordados vendo televisão; passei pela sala carregando o mundo nas bolsas dos olhos.
Quando eu passei, minha mãe disse que a minha bunda estava ficando grande. Acho que era algo que ela vinha esperando pra me dizer, porque ela nem olhou na hora em que disse, não tinha reparado ali. Aliás, ela escolheu o pior momento possível pra dizer isso.

Seria mentira se eu dissesse que não me lembro de ter cortado as gargantas dos coelhos. Não lembro de todo o processo, mas principalmente de pegar a faca e de todos os 11 cortes em si. Os sons deles se abrindo e evacuando a vida por aquele talho,
eu ainda consigo sentir todos os pedaços do ato.

Ninguém me viu fazendo isso. Suspeitaram de mim porque acordei coberto de sangue. Nunca encontraram a faca; intuitivamente suspeito que eu a engoli, mas se fosse mesmo eu já deveria ter tido algum problema.
Me perguntaram quase nada.
Passei aqueles dez dias na instituição e a minha família dizia pros outros que eu tinha tirado o apêndice, me fizeram uma cicatriz falsa e tudo.

Depois disso eu só parei de ouvir música, e tudo ficou bem.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

intestinos

ele tecla, senta, levanta, olha nos olhos do colega enxergando nada, arquiva, se dirije a,
tecla
envia email
mensagem de texto
mensagem automática
mensagem telepática informando ao terminal at home o que deseja para o jantar -
e a que temperatura sua ave morta deve estar.

Mas ele não É onde está.
Não é a caminhada distraída por entre prateleiras de processadores e zumbidos;
nem conversa ensaiada que desperdiçava para com aquela que se chamava Mãe e despejava qq conteúdo em seus ouvidos;
menos ainda seu status social condizente com o exemplar masculino médio com 37 anos de desejos forjados para acreditar em satisfação.
As teclas estalam sob seus dedos onde ele está
mas ele É lá onde não há nomes.
O ladrilho da sala salgada estala sob os seus passos - onde ele está;
mas ele É lá onde, na beira de um mar que nunca viu continente vivo,
deitado na areia negro-esgoto,
monta de lado
um cavalo desenhado com conchas e latas.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Senhora Gerador e Os escuridão

A velha Senhora Gerador insistia em dormir na casa que ficava sobre o cruzamento das linhas dos trens imaginários.
Não devia ser habitada, a casa. Era para ser um ponto de escoamento e redistribução de fluxo espaço-tempo, mas SG insistia que precisava dormir na sala do atravessamento.
Completando a equação, na Terra nasciam eletrossensíveis.
Eles eram a desculpa que a Senhora Gerador dava para sua exigência insistente; compensar Os escuridão, que com suas velas, seus livros de papel, seus lápis, canetas e instrumentos musicais, eram trancados em câmaras subterrâneas -
para que sobrevivam bem, mas nunca despertem mta curiosidade.
Protegidos da eletricidade,
Os escuridãos tem um fluxo sanguíneo mais baixo, as ondas cerebrais mais tranquilas e concentradas. Com o passar das gerações (única marcação de tempo válida ali) suas vozes foram dimuindo de volume. A comunicação se transformou em 100% de compartilhamento de informação dos ambientes;
muito além da simples telepatia, é um estado em que suas mentes estão no mesmo lugar. Se, por ventura, ainda há algo de idiossincrático a ser compartilhado, eles sopram nos ouvidos uns dos outros;
como voce venta, diz tudo sobre o que está pensando.