segunda-feira, 20 de julho de 2009

1707 b

depois que ela se foi não olho pra trás não pisco não paro não respiro o ar de onde estivemos - o ar de onde falamos de onde sentamos. depois que ela se foi não digo mais seu nome não choro nem um pouco, não relembro, não me esforço por guardar nem um pedaço nem um espaço nem um fragmento de alguma roupa vestida em ocasião especial, nunca houve ocasião especial.
depois que ela se foi e eu não pude contê-la,
não guardo - jamais -
lembrança ou memória.
aqui, lembrança e memória, ainda mais de alguém que desistiu, são mais venenosos do que erva ruim. erva ruim te mata rápido, te acaba.
guardar alguém que desistiu na cabeça te engana, polui a visão, nubla os perigos, mastiga o instinto de sobrevivência.
é começar a não aguentar também.
enterro o presente deixado pra mim, porque assim que o trem se foi de vez, já deixou de ser bonito, é puro perigo.
sigo andando.
para o resto da manhã, preciso de um objetivo.
agora existo pra encontrar um par de sapatos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário