segunda-feira, 31 de agosto de 2009

o último dia de agosto

Há alguns anos atrás - não sei quantos - nunca lembrarei - deveria? - entraram na minha casa, ao meio dia
e levaram Tudo o que eu tinha.
"Tudo" nunca foi o computador, mas cada palavra guardada ali e irretornável,
"Tudo" nunca foi meu aparelho de som, mas a fitinha toscamente gravada com musicas escritas pra mim
por um amor irretornável,
"Tudo" nunca foram os meus brincos - mas o prazer de escutar a escuridão
"Tudo" nunca foram as miudezas incontáveis, os discos, os filmes, os livros, os cordões
Tudo o que levaram foi uma capsula que me protegia de um nível de contágio do mundo.
O que me levaram foi não ter medo do mês de agosto.
Deixaram pra trás vergonha das gavetas escancaradas, chorar debaixo do chuveiro,
sobrevivencia,
e dormir de luz acesa.
Ali começou minha segunda infância. A noite comprida mais solitária das crianças.
Há alguns anos, tenho medo de alguma coisa hoje.

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