segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Chegando a algum lugar.

quando finalmente acordo,
depois de dormir, pesadelar, zumbizar, poetizar, atomizar, sofrer de fome
enlouquecer
e voltar
passaram-se varias partes do tempo chamadas dia.
Meus pés se transformaram em tocos. Movimento-me mais por estocadas na terra do que passos. Mas isso não me preocupa; estou apreensivo pela quase certeza de ter comido erva ruim. O que mais poderia ter me colocado nesse estado por tanto tempo e me anestesiado a ponto de não sentir dor nem falta das minhas extremidades?
Era bom esse efeito de seguir andando apesar de tudo.
Esse era o mais preocupante sintoma de erva ruim.

A última coisa de que me lembro é de pensar em sapatos e que encontraria os sapatos e que não pararia até sapatos.
Que eu desejara cigarros.
E mais adiante vira um clarão azul. O azul não parecia inofensivo ou saudável. Mas achei que não me antingiria.

O que quer que fosse, já tinha agarrado. Vou continuar. Talvez uma versão estragada de mim mesmo, mas vou continuar caminhando.

De qualquer forma, só lembro claramente do estrago de tempos em tempos.
Recordo vagamente de algum parente, uma tia, minha mãe talvez até, me contar sobre uma sensação parecida com isso que era "estar apaixonada". Lembro que ela contou passar dias inteiros na frente do computador. Falando com o namorado. Trocando emails. Instantaneamente. Arquivos. Essas merdas que eu não peguei.
E ela me dizia que se sentia como se estivesse sentada no parque vendo o sol e tocando o cara. E que a sensação que isso causava lhe apertava todos os orgãos internos. Constritos. Parece que com o tempo de convivencia a tendencia era que a sensação fosse amenizando. Se parasse totalmente é porque "não tinha mais nada a ver". Tenho até a impressão de que me divirto mais com essa história lembrando-a agora. Na época, não me fazia sentido algum, só muito chata. Entendo melhor sadomasoquismo.
E quero encontrar sapatos. Não sinto fome e não me perguntarei mais o porquê. Que venha o porquê e o porvir; e lá
logo adiante
eu vejo: Três vultos. Podem ser moças.
Daqui, eu já sei, eu já sinto, que a situação não é das melhores. A maior bate numa delas que está deitada, enquanto a menor, uma anã ou uma criança, grita desesperada.
Nem com uma luz perfeita como a do dia de hoje sobre um campo florido de erva ruim, esta cena é palatável ou de bom augúrio.
Mas é o meu destino ali na frente, meus sapatos logo adiante, e é pra lá que eu vou.

Um comentário:

  1. os sapatos e os cigarros e a luz azul.
    todas as vontades e instintos e um rumo enfim.

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