sábado, 12 de setembro de 2009

subindo a colina

enquanto caminho ate as tres criaturas - e a medida que me aproximo a menor delas se apaga - penso que não deveria estar aqui
ou qualquer lugar
me lembro que eu tinha um quarto e uma cama onde aceitei morrer
até que ela me arrastou para fora
me obrigou a ve-la ir, assisti-la desistir de morrer comigo
partir
quebrar
algo próximo a uma esperança que tínhamos.
percebo que estou com os pés no osso, tocos, porque saí sem sapatos
sabendo que se ela embarcasse
não me importaria caminhar.
eu não sabia o quanto eu saberia fingir. e ir.
nem que seja por vingança
demorar um pouco mais até encontrá-la do outro lado
se é que há.
nem sei se eu deveria temer. ou sucumbir. nem sei se ainda estou em mim ou se a erva já me levou e sigo num moto-contínuo de existir.
saí da cama por ela
porque no fundo acreditava que com a minha cara horrível mas presente
ali ao lado
ela não teria coragem de ir.
quando ela subiu no trem esqueci esqueci esqueci esqueci esqueci na mesma cadencia do trem nos trilhos
esqueci.
há muita dor pra quem não esquece. muito deus. muita sobrevivência.
eu só sapato sapato cigarros.
estou bem perto das outras três, a menor é só um feixe de luz, não conto que ela exista.
a que está no chão já deve estar morta com tantas porradas.
se eu apanhar da mulher - vejo nitidamente uma mulher grávida que bate - baterei nela sem piedade.
tenho muitos motivos pra bater.
zaira nunca vai me pagar por ter disistido fingindo que tenta.
me chamo quasechuva e acho que já me ferrei demais. ou talvez só esteja me armando.
sapatos, sapatos, cigarros.

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